
- Etiqueta do artigo: contradições da Amazônia
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Manaus é uma cidade onde nada é simples. No centro da maior floresta tropical do planeta, ela abriga uma das maiores zonas industriais do Brasil. Produz celulares, TVs, motocicletas, placas eletrônicas, tudo cercado por rios, mata fechada e biodiversidade que não existe em nenhum outro lugar do mundo. Essa justaposição não é um detalhe. É a essência da cidade.
Enquanto a floresta viva pulsa com silêncio, ciclos e regeneração, as linhas de produção da Zona Franca de Manaus seguem outro ritmo — rápido, mecânico, exigente. Em 2021, o polo industrial de Manaus gerou R$140 bilhões em receita, produzindo 14 milhões de celulares, 10 milhões de TVs, 1,2 milhão de motocicletas (World Bank, 2023). Mas ao redor dessas cifras, há bairros onde menos da metade dos jovens conclui o ensino médio (IDB). Uma cidade de alta tecnologia e baixa equidade. De produção em escala e educação interrompida.
A tensão produtiva é visível. Está nas carretas que cruzam as avenidas enquanto comunidades amazônicas vivem do básico. Está no concreto que avança e na vegetação que insiste. Está nos R$30 bilhões em isenções fiscais federais por ano que sustentam o modelo econômico da região (Liberal Amazon, 2023), mesmo quando estudos apontam que a perda da floresta pode gerar prejuízos sete vezes maiores para o país (Mongabay, 2023).
Essa mesma tensão vive na OMAMA.Nós também trabalhamos entre dois mundos: o da floresta e o do mercado. Nossos designs OMAMA nascem da madeira amazônica, matéria viva, ancestral, moldada com calma, mas precisam dialogar com um mundo que exige velocidade, volume e design. Carregamos no mesmo objeto o toque da mão e a lógica da indústria. O tempo da natureza e o tempo do consumo.
E é exatamente aí que mora o nosso propósito. Não estamos aqui para resolver a tensão, mas para habitá-la com consciência. Para transformar essa fricção em forma, essa contradição em potência. A floresta ensina uma coisa. O mundo cobra outra. OMAMA escuta ambos.
Manaus é a cidade certa para isso. Aqui, tudo se movimenta entre opostos. Força e vulnerabilidade. Riqueza e escassez. Crescimento e conservação. Resistência e invenção.
A OMAMA é feita dessas forças em colisão. E é nesse espaço instável, entre o que foi e o que pode ser, que a gente encontra criação.